terça-feira, 21 de dezembro de 2010

NÃO SEI O QUE ESTÁ ACONTECENDO COMIGO


Não sei o que está acontecendo comigo, ultimamente não consigo dormir direito, levanto de madrugada, pela manha fico perdido, vou ao jardim ver as plantas, tomo um café demorado, um banho rápido, ... sinto uma melancolia que não sei de onde vem ... daí, pego o violão e fica tudo bem ... toco músicas novas, antigas, faço arranjos, mudo de tonalidade, inverto os acordes, penso, sonho, vivo no mundo especial que construo do meu jeito, onde não existe o antes e o depois, é tudo uma coisa só ... bem ... às vezes tenho vontade de chorar, mas ai engulo seco, depois tomo uma cerveja e fica tudo bem, escrevo, caminho pelas ruas, cumprimento as pessoas, observo as plantas, ouço e vejo os pássaros, quando encontro uma pedra bonita que caiba na palma da mão, levo-a para casa, ai penso, ... eu deveria estar levando uma mulher, não uma pedra ... bom, ... as pedras não choram, não falam, não reproduzem, e se for preciso eu posso dar uma pedrada, posso construir uma trincheira, um castelo, uma ponte, mas as pedras não precisam de cuidados, não da pra sentir afeição, carinho por elas, mas se for uma pedra preciosa .... A noite vai chegar, devido ao horário de verão tem se atrasado um pouco, mas vai chegar, ... o telefone não toca, consulto minha caixa de mensagens a cada 5 minutos, só encontro spam, corro pra ver se tem cutucada no facebook, ... nada .... não sei o que está acontecendo comigo, ultimamente não consigo dormir direito.

Quando você acha que já viu de tudo na vida ...


Na semana passada, recebi um convite de um amigo (ex-aluno), para um jantar em sua casa que fica bem próxima da minha, pedia que eu levasse o violão, no cardápio, peixe, achei legal, pois poderia ir andando, e não precisaria dirigir, alem do mais no dia seguinte pela manha eu não teria compromisso, e se necessário, poderia esticar a noite.

O que eu não sabia, é que este meu amigo (ex-aluno) ouvindo minhas lamentações sobre solidão, tinha resolvido me ajudar por conta própria, organizou este jantar, e convidou todas as solteiras encalhadas que conhecia, ... junto com a esposa, divulgaram na igreja que freqüentavam, que um cinqüentão, solteirão, inteligente, boa pinta, músico e amigo da família, iria escolher uma noiva. O alvoroço foi geral, como os convites eram limitados, fizeram uma lista de espera para um segundo jantar ou terceiro, caso não houvesse escolhida naquela noite de quinta-feira.

Pra variar, estava eu muito à vontade, fui de bermuda, camiseta e tênis velho, ao me aproximar da casa, percebi um grande movimento de carros, achei estranho, pois o local sempre está deserto, quando cheguei à porta, descobri que eram as convidadas que chegavam para o jantar, pensei em voltar e trocar de roupa, pois todas estavam super produzidas, mas não dava mais tempo, meu amigo (ex-aluno) me acenava e dizia pra entrar.

O jeito era encarar de frente, lembrei de um professor da Fundação das Artes que dizia: “se vc inevitavelmente vai pisar na poça de lama, pule com os dois pés pra que todos pensem que é a sua intenção”, ainda bem que eu tinha o violão na mão, isto me deixava mais à vontade.

Depois do terceiro ou quarto copo de vinho, me pediram pra tocar, no começo não quero ir e quando vou não quero parar, quando dei uma pausa entre uma música e outra, meu amigo (ex-aluno), do outro lado da sala, gritou:

O Cipó, o que você espera de uma mulher ?

O silencio foi geral, eu perguntei, quem eu ? pra ganhar tempo e pensar, ouvi minha respiração quando respirei fundo e disse de bate - pronto:

Bom, ... eu espero que ela seja pra mim o que Simone de Beauvoir, foi pra Jean Paul Sartre, .... o silencio aumentou, toquei um acorde dissonante pra quebrar o clima, ouvi em seguida um barulho de mesa e cadeiras se arrastando, metade da pessoas que estavam na sala se levantaram e foram embora, a outra metade que ficou, não sabia quem foi Sartre.

Meu amigo (ex-aluno) se aproximou e me deu uma dura dizendo:

Cara, vc parece comunista, leva tudo a serio, é por isto que não tem ninguém, vê se toca um samba ai, vou buscar uma bebida pra vc, e saiu andando.

Fiquei tocando até certas horas, quando bateu um leve cansaço, parei e fui procurar uma saideira, havia começado uma chuva, alguém me ofereceu uma carona, aceitei e pensei, talvez a noite não esteja totalmente perdida, no caminho observava as formas da motorista, belas pernas, belos seios, belos lábios, não podia confiar nos meus sentidos, havia bebido um pouco, era melhor fazer uma avaliação no dia seguinte, quando chegamos em casa, convidei-a pra entrar, disse que morava sozinho, ela gentilmente disse que não, pois tinha uma namorada, e que gostava de mulheres como eu, não era a primeira gafe da noite, agradeci a carona e ela me deu um cartão que tinha nome, telefone, email e no verso uma frase, “Deus é fiel”.